Santos fecha 2020 com déficit de R$ 119 milhões, e Conselho Fiscal sugere reprovação de contas
Orçamento entregue em 2019 previa superávit de R$ 34,6 milhões. Órgão de fiscalização cita renovações contratuais fora do padrão e diferença entre orçado e realizado pelo clube
Por Bruno Giufrida — São Paulo
O Santos fechou 2020 com déficit de R$ 119.835.836,19 e aumento de quase R$ 100 milhões em sua dívida a curto prazo. As demonstrações financeiras foram assinadas pela auditoria independente Macso Legate. Em relatório que será votado no Conselho Deliberativo, ao qual o ge teve acesso, o Conselho Fiscal do clube recomendou a reprovação das contas do ano passado.
Para argumentar a conclusão, o Conselho Fiscal apresenta diferença entre o que foi orçado em 2019 e o que foi realizado em 2020, aumento na necessidade de geração de caixa, impostos não recolhidos, aumento na folha salarial administrativa e contratos renovados ao fim do ano passado e que representam prejuízo ao Santos.
Em contrapartida, o Santos gastou menos do que foi orçado em parte do balanço patrimonial de 2020. Com direitos de imagem de atletas, por exemplo, previa gastar R$ 29.174.004,00, mas gastou "só" R$ 23.927.413,75.
Com folha salarial dos jogadores, porém, o orçado ficou muito abaixo do realizado. O Santos previa gastar R$ 50.589.974,23 em 2020, mas gastou R$ 110.371.581,70, diferença de R$ 118,17%. As despesas administrativas também ultrapassaram o esperado: era R$ 26.225.475,45 e fechou em R$ 48.629.216,14.
De acordo com o relatório apresentado pelo Conselho Fiscal, infringir o orçamento desrespeita os artigos 64 e 82 do Estatuto Social do Santos.
Ainda no Estatuto Social, o artigo 89 diz que o endividamento do clube, dentro de cada ano, não deve ultrapassar 10% da receita orçada. Neste caso, seria R$ 24.936.285,34. O endividamento em 2020 foi de R$ 117.928.999,12.
O balanço patrimonial de 2020 ainda apresenta:
Aumento de 28% na folha salarial administrativa;
Acordos trabalhistas que custarão R$ 23,4 milhões em 2020, 2021 e 2022;
R$ 46 milhões em impostos não recolhidos;
R$ 240.677.834,83 de gastos com o futebol profissional (não ultrapassou a cota de 76,5% permitido em relação aos gastos totais);
Diminuição da dívida com tributos de R$ 184 milhões para R$ 181 milhões.
A previsão no orçamento entregue em 2019 era de superávit de R$ 34.636.752,62, mas a gestão apresentou déficit de R$ 119.835.836,19. Por isso e por considerar que não houve prática de boa gestão, o Conselho Fiscal recomenda que as contas de 2020 sejam reprovadas pelo Conselho Deliberativo do Santos.
Depois dos resultados apresentados no ano passado, a dívida a curto prazo passou de R$ 166 milhões em 2019 para R$ 260 milhões em 2020; e a dívida a longo prazo passou de R$ 274 milhões em 2019 para R$ 244 milhões em 2020.
O relatório também apresenta os resultados dos três anos da gestão do presidente José Carlos Peres, que sofreu impeachment em novembro de 2020 e deu lugar ao vice Orlando Rollo até o fim do ano. Ao todo, de janeiro de 2018 a dezembro de 2020, o Santos teve:
Total de receitas: R$ 857.408.234,96
Total de despesas: R$ 1.031.128.439,52
Resultado: déficit de R$ 173.720.204,56
Contratos sob análise
O Conselho Fiscal também cita, em parte do seu relatório, contratos com jogadores que chamaram atenção durante a análise das contas do ano passado. O documento não revela de quem são os vínculos (os define apenas pela numeração de controle interno), mas o ge apurou que se trata das renovações com os zagueiros Lucas Veríssimo e Sabino.
Em 03/11/2020, o Santos renovou, com data retroativa de 01/10/2020, o contrato de Lucas Veríssimo com luvas a serem pagas em dezembro, janeiro e fevereiro e pagamento de intermediação de R$ 2 milhões.
Com a venda para o Benfica, de Portugal, o Santos se comprometeu a pagar as luvas pela renovação em três parcelas de R$ 500 mil, R$ 200 mil de direitos de imagem que estavam atrasados e 8% do valor total para a empresa Energy Empreendimentos e Participação pela intermediação da negociação com os portugueses.
O Conselho Fiscal informa que não obteve informações sobre os R$ 2 milhões prometidos pela intermediação da renovação em novembro, já que Lucas Veríssimo foi vendido para o Benfica.
O outro contrato destacado pelo Conselho Fiscal é o do zagueiro Sabino, assinado em 11/12/2020, com vigência de 01/03/2021 a 30/01/2025. O documento previa aumento salarial de 500%, chegando a 700% até o fim do vínculo, além de R$ 1 milhão de direitos de imagem em 2021 e 7% do valor total do contrato (R$ 848.400,00) à empresa RWM pela intermediação.
Ao Conselho Fiscal, a atual gestão informou que rescindiria o contrato de Sabino. Isso realmente aconteceu, e o zagueiro foi para o Sport. O clube terá direito a 10% do valor em uma futura venda.
Agora, os conselheiros do Santos vão votar o parecer do Conselho Fiscal em reunião que deve ser realizada na próxima semana, virtualmente.
Fonte: globo esporte.com
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